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domingo, 26 de julho de 2015

Campo de batalha

Tenho uma lembrança muito antiga. Lembro-me de meus pais, à noite, com velas nas mãos, à busca de uma chupeta perdida no quintal da chácara em que morávamos. Hoje não sei se foi um sonho ou real, mas lembro-me que havia muita angústia. Crianças têm dessas coisas, de ter seus desejos atendidos, não importa o sentimento ou necessidades dos outros.

E adultos queremos só para nós as ruas, os espaços, os assentos, as escadas-rolantes etc. “Segurança do próximo?” “Ele que sai da frente!”. “‘Eu’ preciso passar.”

Não sei de onde vem esse desejo que não respeita o outro, mas, não somos mais crianças, é preciso entender que ideias são captadas e também são transmitidas.

Transmita o que for bom.

 26 de Julho de 2015.

domingo, 19 de julho de 2015

Medir


Sempre que chega julho chega também aquele aperto no coração: já se passou metade do ano. E a gente vai envelhecendo e parece que o ano passa mais rápido. Como medir o tempo se ele encolhe a cada ano?

Antigamente eu contava o tempo na quantidade de vezes que revia meus avós; Em aniversários e natais; Em primaveras e verões; Em tempo de plantar e tempo de colher. Escola e férias.

365 dias. 12 meses. 52 semanas. 2 semestres. 4 estações. 525.600 minutos. Semanas de provas. Anos de formatura.

A gente vai ficando velho e tudo isso não importa mais. Tudo passa e tudo volta e parece que é sempre mais rápido.

Quero medir o tempo em quantas vezes eu pude dar amor, receber amor, ser amor. E que seja muito. E que seja longo. E que continue depois que eu me for. E que seja eterno.

19 de Julho de 2015.

domingo, 12 de julho de 2015

Aprendizado

Quase todas minhas publicações são feitas de lembranças. Simplesmente abro as cortinas da minha memória e a reescrevo aqui. De cada uma tento extrair algum ensinamento, algum aprendizado, um bom exemplo.

O maior de todos os aprendizados que adquiri é que tudo está aí, escancarado. Não há nada novo. Tudo já está pronto desde os primórdios do planeta. Só precisamos levantar as cortinas que escondem a luz e ver.

Newton não descobriu a gravidade, Thomas Edison não inventou a luz, Einstein não criou a teoria da relatividade. Todas essas coisas sempre existiram, só tiveram a humildade de observar e a coragem de expor o que aprenderam.

Você não precisa ser criativo para ser feliz, basta enxergar sem filtros.

12 de Julho de 2015.

domingo, 5 de julho de 2015

Moedas

Meu pai costumava brincar com as crianças oferecendo várias moedas de pequeno valor que elas pegavam radiantes de felicidade, acho que até se achavam ricas. Em seguida, ele pegava uma única moeda que superava o valor de todas as outras e oferecia em troca. Claro que as crianças preferiam ficar com dez moedas de um centavo do que com uma de um real.

E até tentávamos convencê-las que com a moeda maior se poderia comprar mais do que o monte de moedas pequenas, mas eram irredutíveis. Às vezes, aparecia uma criança mais esperta e convencia o meu pai a dar todas as moedas, até porque ele já estava disposto a fazer isso.

E assim, depois de crescidos, ainda somos seduzidos pelo pouco que achamos ter conseguido (ou o 1% que teimamos enxergar). Com medo de perder o pouco, deixamos de conquistar o todo.

O todo já é nosso. Basta acreditar, confiar, perseverar no que for bom e resistir ao controle do apego.

05 de Julho de 2010.

domingo, 28 de junho de 2015

Causa

No dia do meu batizado, eu tinha uns cinco anos, vestido com roupa nova e especial para a ocasião, rolei por um barranco por três vezes. Na ansiedade de ter meus vizinhos na festa, ia convidá-los, ou melhor, apressá-los. No caminho de volta, faltava coordenação para descer com calma e cuidado, então, eu rolava. Fui quatro vezes, rolei três. Não me machuquei (eu acho), mas, a minha mãe me perguntava sobre a roupa suja e amassada, sobre a terra no cabelo etc. Na última vez, mais envergonhado do que com medo, mudei a estratégia, deixei de lado a pressa, aumentei o cuidado e desci, sem rolar. Aprendi que o problema não era o barranco, era eu.

O legal de escrever um blog é que começamos olhar para dentro de nós mesmos. É a única forma de conseguirmos encontrar assuntos para escrever. E olhando para dentro percebemos que tudo o que acontece de bom ou ruim, principalmente o ruim, é causado por nós mesmos.

De alguma forma nossas escolhas geram as consequências ruins.

E eu não culpo mais ninguém. Evito, de todas as formas, falar mal do próximo, porque, na verdade, a realidade é um espelho. O que vemos de mal no outro, é o que carregamos na alma. Enxergamos nosso reflexo e, geralmente, ele é feio. Culpar o outro é a melhor forma de deixar as coisas como estão, afinal, é o outro. O que eu posso fazer? Reclamar, falar mal, jogar pedras. Porém, como num espelho, as reclamações, os xingamentos e as pedradas se voltam contra mim. Reação.

O lado bom é que, entendendo ser eu a causa, posso mudar minhas atitudes. Se eu quero o mundo mais bonito, eu preciso ser bonito. Se eu quero limpeza, tenho de ser limpo. Se eu quero justiça, tenho de ser justo.

28 de Junho de 2015.

domingo, 21 de junho de 2015

Maioridade

Há muito tempo eu li um livro muito velho e (muito grande também). Ele contava várias histórias, mas alguns fatos me chamaram a atenção. Tem a história de um homem que poupou o filho do sacrifício, substituindo-o por um cordeiro. Seu povo cresceu e se multiplicou.

Muitos anos depois, um descendente deste teve vários filhos. O mais novo gerou ciúmes em seus irmãos que o venderam como escravo para uma grande nação. De escravo ele passou ser o principal conselheiro de seu Rei, salvou esta nação e o próprio povo. 

Passaram mais alguns séculos e os descendentes daquele menino tornaram-se novamente escravos da grande nação (com tantos escravos, qualquer vilinha se tornará uma grande nação, é lógico!). O novo rei, em determinado momento, mandou matar todos os recém-nascidos do povo escravo. Um se salvou e libertou aquele povo e a Nação, sem escravos, perdeu sua magnificência.

Uns dois mil anos depois, outro rei mandou matar novamente os recém-nascidos do povo descendentes daquele primeiro sacrifício poupado. Um novamente se salva para desafortúnio do rei e seus descendentes.

Passaram-se mais dois mil anos e esta história vem se repetindo ao longo dos séculos.

Hoje, por não saber se estou do lado de quem vai continuar ou de quem vai sucumbir, prefiro proteger a todas as crianças que sejam oprimidas.

21 de Junho de 2015.

domingo, 14 de junho de 2015

Prova(ção)

Acredite se quiser, mas eu não gostava quando o professor chegava no dia da prova e dizia que esta seria com consulta. Entendia que desta maneira não provaria nada, não mostraria que tinha valor, pois, só copiaria as respostas. Claro que nunca evidenciei isso e, de certa maneira, ficava feliz pelos outros.

De qualquer forma as respostas sairiam dos mesmos livros. As lições aprendidas sairiam das mesmas aulas. Só que, na prova com consulta, parecia-me que eu não era merecedor. Não enfrentei dificuldades, me faltou a ansiedade, o medo de errar e a nota final satisfatória teria um gostinho de vergonha.

Talvez o Criador, muito sábio, entendeu que simplesmente dando as respostas, ao invés de felicidade sentiríamos envergonhados. Assim, mesmo que as respostas sejam evidentes, nos faz pensar que nós as encontramos, que as criamos e, assim, merecemos a vitória sem culpa.

14 de Junho de 2015.

domingo, 7 de junho de 2015

Transferência

Quando criança via os adultos usarem 2 copos para esfriar o leite. Ficavam transferindo o leite de um copo para o outro até chegar a uma temperatura que não nos queimaria a boca. Vi diversas vezes meus pais fazerem isso com o leite. Não entendia muito bem o que era, o que acontecia e até ficava emburrecido pela demora em tomar o leite.

O líquido até esfriava, mas os dois copos ficavam aquecidos. O calor era transferido e compartilhado entre os dois copos.

Mais tarde, também aprendi que o calor se dissipava no ar também, no espaço entre os dois copos.

E se fosse gelo o conteúdo transferido de um copo para o outro?

Como um copo frio e inerte nós podemos receber calor. Se tivermos conteúdo aquecido podemos transferi-lo também, e, nesse processo, o ar em volta também recebe um pouco de calor.Tudo pode ser transferido, compartilhado. Calor e frio.

7 de Junho de 2015.

domingo, 31 de maio de 2015

Cortina

Toda criança gosta de cortinas, de se esconder atrás delas. Também é irresistível para uma criança não tentar descobrir o que há por trás delas. Comigo, para desespero da minha mãe, não era diferente.

Ganhei alguns beliscões por levantar cortinas. Porém, descobri belas paisagens escondidas. Também já vi paredes e coisas nem tão belas e interessantes assim.

No Teatro, o espetáculo começa com o levantar de cortinas, a magia está escondida atrás dela.

 O “Grande Mágico” de Oz, escondido atrás de uma cortina, não passava de um simples e baixinho mortal.

 Aí, a gente cresce, descobre a finalidade de esconder a realidade atrás de cortinas ou, simplesmente, de bloquear a luz. Assim, infelizmente, perdemos a curiosidade de ver além delas. Se não vemos, também perdemos o desejo de mudar tal realidade.

Levante as cortinas!

 31 de Maio de 2015.

domingo, 24 de maio de 2015

Quebra-cabeça

Certo dia na minha infância, minha mãe chegou do trabalho com um pacote cheio de peças de um quebra-cabeça ganhado da patroa. Era o nosso primeiro e, sem experiência, a montagem no inicio foi difícil e até um pouco frustrante. Não tínhamos nem idéia da imagem que seria formada.

Assim, com paciência, montando as laterais, separando as peças de acordo com a tonalidade a imagem foi se formando até completar uma linda paisagem, uma família e um carro com porta-malas aberto sugerindo preparativos para um piquenique. Tão bonita que não dava vontade de desmontá-la.

Talvez, não consigamos ver nosso mundo como um inteiro. Nossa vida é formada de pequenos fragmentos que devemos montar, procurar as partes que se encaixem corretamente, e, no fim, depois de tudo montado, entender o todo.

Inteligente o Criador. Transforma a vida em um quebra-cabeça e assim, nos torna co-criadores. Não desista de encaixar as peças.

24 de Maio de 2015.

domingo, 17 de maio de 2015

1%

Quem, quando criança, não gostava de brincar com a própria sombra? Eu adorava. Achava engraçado o jeito que ela me “imitava”: dançando, pulando, abaixando etc... Acho que eu até conversava com ela, claro que ela nunca me respondeu.

Minha sombra não tinha cabelos, pele, olhos, boca. Era menos que um espelho, era só um vulto com minha forma. Sei lá, voltando à publicação “99%”, a sombra é o 1% de mim.

Ela imitava meus movimentos, nada mais. Se ela fosse um ser vivo, ela só reagiria, a capacidade de agir não existia para ela.

O 1% é reação. Os 99% é onde tudo acontece, onde se cria, onde se age, onde se transforma. O 1% é sombra, é escuridão. Os 99% é luz e criação.

17 de Maio de 2015.

domingo, 10 de maio de 2015

Atividade

Lembro de um dia na escola a professora pedir para levarmos uma lata vazia de leite em pó ou nescau. Achei e estranho e fiquei imaginando para o que seria. O que eu aprenderia com isso?

Durante alguns dias trabalhamos com papel colorido fazendo recortes, depois, colamos os recortes na lata, transformando-a num bonito guarda-treco. Fiquei muito feliz de ter feito algo útil e bonito. Mas, a professora pegou todas as latas e as guardou no armário.

Confesso que eu não me lembro o que eu pensei na época. Se usaríamos as latas na sala de aula ou se foram feitas para a professora mesmo. Mas, na última sexta-feira antes dos dias das mães, junto com um desenho pintado por nós, a professora nos entregou a lata e disse que era para entregar às nossas mães (naquela época, não havia festas para elas na escola).

E minha felicidade se transformou em ansiedade. Voltei o mais rápido que pude para casa para entregar o presente. E a felicidade da minha foi tão grande que senti uma ponta de remorso, pois, se soubesse que era um presente para ela, acho que teria empregado muito mais amor do que imaginando ser uma simples atividade escolar.

 Agora, por não saber os resultados finais, emprego todo o amor possível em tudo o que eu faço.

10 de Maio de 2015.

domingo, 3 de maio de 2015

Olhar

Gosto muito de fotografias e fico fascinado com fotógrafos que conseguem mostrar beleza em coisas ou lugares que não aguentaríamos olhar, que nos trariam asco ou angustia. Incrível este olhar que filtra o que é belo e poético onde normalmente não veríamos isso.

E através deste olhar de fotógrafo que denunciamos o que está errado. É através deste olhar que extraímos beleza onde ninguém vê. Que mostra a esperança onde enxergamos caos.

Quando se deparar com algo que não seja bonito, busque o olhar do fotógrafo, encontrar o foco do que é belo. Denunciar o que está errado. Mostrar a esperança onde há caos.

03 de Maio de 2015.

domingo, 26 de abril de 2015

99%

Não gosto de jogos de azar, não gosto de apostas. Se depender somente da minha vontade, eu não compro nem rifas, a não ser que seja para ajudar alguém ou alguma causa. Dizem que é o meu lado taurino e pão duro agindo. Deve ser verdade.

Vejo as pessoas que se apegam aquela pequena chance de ganhar na loteria. Eu não sou matemático, mas acredito que a maioria dos apostadores tem 1% de chance de ganhar.

Prefiro viver os meus 99% de tudo que posso ser, fazer, conhecer, aprender e presentear. A felicidade não está no 1%, ela é os 99% restantes.

26 de Abril de 2014.

domingo, 19 de abril de 2015

Átomo

Quando criança eu gostava de picotar um papel até chegar no menor pedaço possível. Quando ficava impossível tirar mais um pedaço, ainda assim, eu percebia que ali não era o fim. Eu estava limitado, mas, ainda daria para continuar cortando, só não tinha a tecnologia para isso. Imaginava se havia um ponto indivisível. Ainda não sabia o que era átomos.

Em pedaços muito pequenos, papel é só papel. Não importa se, quando inteiro, era uma tese de doutorado ou pornografia.

No colegial, aprendi o que era a menor parte possível da matéria: O átomo.

E tudo é feito de átomos, inclusive nós. E não existe átomo ruim ou bom, existe átomo.

Uma visão bem simplista do ser humano, mas, o que nos diferencia? A diferença é o que fazemos ou deixamos de fazer depois de formados.

Os cientistas dizem que estamos feitos de átomos, mas um passarinho me contou que estamos feitos de histórias.” Eduardo Galeano.

19 de Abril de 2014.