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sábado, 4 de março de 2023

Feridas

Lembro-me de certa noite, minha tia e minha mãe aflitas com o horário de um simples curativo no pequeno neto da tia (sobrinho-neto de minha mãe, pela ordem). Um bebê que usava uma bolsa de colostomia que precisava ser limpa e trocada diariamente.

Minha prima teve problemas no transporte e se atrasaria e já passava da hora do curativo ser trocado. Era necessário, fazer a troca da bolsa naquele momento, o pequeno estomago do primo já vazio, começava a produzir ácidos que queimavam as paredes do abdome por onde saiam os tubos, provocando dor. Adultos ficam chatos quando sentem dor, imaginem bebês. 

O simples ato de aproximar a mão do local já provocava choros, gritos e recuos da criança. E, o desespero das duas mulheres, fizeram que me chamassem. Avós não foram feitas para verem sofrimento de netos. Eu, após 3 cirurgias, tinha adquirido uma certa experiência com curativos. 

Sim, sofrimento ensina, e toda a ferida é um ponto de entrada de luz. Temos duas boas formas de aprender, por sofrimento (é a forma mais comum, infelizmente) e por amor.

O que eu aprendi nessa história? Pessoas com feridas abertas até o carinho dói, e dor não é coisa que avó gosta de dar, mas alguém precisa fazer.

04 de Março 2023.

domingo, 18 de setembro de 2022

Velocidade da escuridão

Na fotografia, para se iluminar uma cena basta um flash. Um piscar tão rápido e intenso de luz que às vezes, ao nosso olhar, pode passar despercebido. A imagem congelada fica clara para sempre. Mas, após o disparo do flash, a escuridão volta à cena real tão rápida quanto foi a própria luz.

Ninguém fala, mas a escuridão é tão rápida quanto a luz. Talvez, até mais rápida, pela desorientação que ela nos causa. Na escuridão que estão nossos medos, nossas angústias, nossas tristezas. E essas coisas podem aparecer muito rápido quando perdemos nossa fonte de luz

Buscar e manter a luz é nossa eterna busca. Às vezes precisamos esperar por um amanhecer, que sempre virá, mas, a gente também a cria, e não precisa ser rápida e intensa como um flash fotográfico, porque nessa situação a sensação de felicidade/proteção/satisfação também será. Tem de criá-la (ou buscá-la) como uma lâmpada, uma fogueira, uma luz continua que nos ampare, nos aqueça e nos dê a segurança para enxergar o caminho.

Conhecimento é luz. Fé é luz. Esperança é luz.

 18 de Setembro de 2022.

domingo, 4 de setembro de 2022

Enxergar

Há pouco mais de um mês percebi uma mancha em minha visão, que piorou consideravelmente em pouco tempo. Susto. Marcada com urgência consulta com oftalmologista, tenho o diagnóstico: Trombose ocular, provavelmente derivado de um glaucoma.

Iniciei um tratamento preventivo de forma emergencial com medicação, agora, torço por melhora e um diagnóstico menos triste.

Não preciso nem dizer sobre meu estado de espírito que despencou aos níveis de depressão, talvez agravada pela medicação, que tem ela como efeito colateral. 

Passado algumas semanas, ainda aguardo novos exames, tento trazer minha vida ao normal.  Afinal, a vida continua e se terei de modificá-la ou adaptá-la à uma nova realidade, não será a primeira vez, então que traga ensinamentos, que eu possa absorver e transmitir. Se é a "ferida o ponto por onde entra a luz"* que seja uma nova e promissora centelha, que ajude a iluminar novos caminhos, meus e de quem estiver por perto.

04 de Setembro de 2022.
*Rumi, poeta sufi.

sábado, 2 de julho de 2022

RITMO

Sempre soube que não seria fácil recomeçar esse blog. Não falta vontade de escrever, mas, a cadência de anos escrevendo aqui semanalmente faz falta. O blog tinha um ritmo. Os textos fluiam como uma música bonita que saia dos meus pensamentos, se transformava em palavras que eu escrevia aqui como se fosse uma dança. Depois de um silêncio de anos, talvez eu preciso buscar este ritmo perdido.

A vida é ritmo. É a batida do coração. É respiração e inspiração. São os passos da caminhada. Às vezes num compasso mais rápido, outras de forma lenta, mas sempre fluindo, sempre em frente.

E se a vida é ritmo, façamos dela uma dança. Que seja bonita. Às vezes suave, outras intensa, mas que possamos ser verdadeiros na melodia.

02 de Julho de 2022.

 

sábado, 25 de junho de 2022

Tempo

Minha mãe tem em seu jardim um vaso de "Flor-de-Maio". Engraçado que quando ela apareceu com esta planta eu não imaginava que era flor. Achei que era só mais uma leguminosa com aparência de cactos. Pra quem gosta de flor, não parece uma planta muito atraente.

Vi aquele vaso por alguns meses até chegar o mês de maio e aparecer entre aqueles galhinhos secos e sem graças, as mais belas flores. Me surpreendi.

Nunca mais olhei para aquela planta achando-a sem graça. Aprendi que o cuidado doado no cultivo resultará num belo espetáculo, e, mais que isso, que toda a beleza das flores, parte dela está no tempo que a planta levou para desenvolvê-la.

“O tempo é a distância entre a conduta e a retribuição." – Rabi Yehuda Berg.

25 de Junho de 2022.




sábado, 18 de junho de 2022

Árido

Mexendo no meu computador achei por acaso essa foto feita há pouco tempo. Uma técnica simples de fotografia que mistura luz projetada e uma longa exposição da câmera.

Umas plantinhas num fundo preto. A simplicidade da imagem contrastou com os cactos, plantas que vivem em ambientes áridos. Árido também pode significar algo sem graça como o fundo simples e preto escolhido para a foto.

Árido, um lugar onde não se cultiva nada, onde não cresce nada, lugar que não dá frutos.

Esse blog, depois de tanto tempo em atividade, não merece ser árido. Nada tem de ser estéril. O que gente faz precisa ser fértil, criar coisas, incentivar o que for bom.

A foto na verdade é bonita e me lembrou que preciso produzir, criar o que for bom.

18 de junho de 2021.

sábado, 11 de junho de 2022

Voltar (Ho’oponopono)

Desde 2019 eu não voltava aqui. Na verdade o blog já tinha parado em 2018. Não faltava o que escrever, mas, achava que faltava olhos para lerem o escrito.

"_ Um dia eu volto". Mas a gente não volta, a gente só continua, a gente segue o destino, a gente caminha pra frente. Buscamos o futuro. A gente só volta quando sente saudade. Quando sente falta.

Eu sinto falta do que eu era. Tenho saudade do que eu fui. E quando a dor do sentir falta é muita, a gente volta.

Aqui eu escrevia para você, leitor, mas, conversava comigo. Refletia sobre o que eu via, sobre o que eu lia, sobre o que eu sentia, principalmente, sobre o que eu aprendia.

E conversando comigo através das palavras que escrevia para você, eu me enchia do melhor sentimento que existe. E quando gente se enche, transbordamos e encharcamos quem próximo está.

Converso comigo:
Sinto muito (eu não devia ter parado). Me perdoe (por ter esquecido o poder que isso tinha). Eu te amo, Universo (por ainda produzir em mim a inspiração). Eu sou grato por tudo que senti, passei, aprendi, transmiti.

11 de Junho de 2022.

domingo, 17 de março de 2019

Exame


Num exame de sangue que deveria ser rotineiro, mas era o primeiro em décadas, me foi revelado que havia algo em excesso, que se não fosse retirado, se não fosse diminuído, encurtaria meus anos, minha existência.

Mesmo me sentindo bem, levando uma vida que achava normal, silenciosamente, misturado e encoberto pelo que me fluía como vida, também estava o que a findaria com brevidade.

Mudei a rotina e coloquei mais movimento. Mudei a alimentação, tornei-a mais natural, mais rica e balanceada até as taxas daquilo que compõe o sangue, voltassem a níveis normais de quando era mais jovem.

Ah, a humanidade! Ela também envelhece. São tantos os pensamentos sinceros, as reações espontâneas e achamos que isso é vida. Não percebemos os pensamentos poluídos de preconceito e ódio, fazendo-nos reagir. Encurta nossa essência.

Fazer um exame na nossa consciência torna-se necessário. Buscar equilíbrio em nossos pensamentos, acrescentar gratidão, cortesia e empatia. Lembrar que as coisas mudam e isso chamamos de evolução, progresso. Que agir é criar o movimento natural, e que o natural é bom; o contrário é reação, fazer o que outros querem. Para, assim, manter nossa humanidade.

17 de Março de 2019

quinta-feira, 20 de setembro de 2018

Verdade


Quando criança a palavra verdade tinha um significado muito simples: era o que não era mentira. Mas, esta palavra é muito mais complexa do que qualquer um pode imaginar. É um conceito filosófico e, como tal, muito difícil de entender e de explicar com meu pequeno intelecto.

Porém, nos dias atuais das redes sociais, da internet, do whatsapp, talvez começamos a entender que a verdade é um conceito muito amplo (prá começar, cada um tem a sua).  Há uma questão de poder. O poder decide o que é "verdade", quanto mais poderoso, mais condição de "produzi-la". A decisão de um juiz é "verdade" (e como explicar a decisão de um colegiado de juízes onde uma parte é contrária a da maioria, esta minoria está mentindo?). Se o professor/doutor/PhD/filósofo diz que é verdade como contradizê-lo se estudei pouco?

Para meu consolo há uma verdade espiritual, se é verdadeira ou não, eu não sei e nunca saberei, mas, me orienta. "Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida"!

Tento seguir cada passo deste caminho, e olha que são muitos passos, mas, tem um atalho: "Amai ao próximo com a ti mesmo".

20 de setembro de 2018.

sábado, 14 de abril de 2018

Efeito

Eu já falei aqui do poder das palavras, tanto para o bem quanto para o mal, acho que no segundo caso o poder é ainda maior. Também já falei da responsabilidade que temos quando vamos escrever ou falar sobre outras pessoas.

Em alguns casos, eu falei também de causa e feito, de atos e conseqüências.

Preciso reforçar que estes conceitos estão ligados. Quando usamos palavras más para falarmos de pessoas colocamos em movimento o conceito de causa e efeito.

Destruir a personalidade de uma pessoa, destruir sua auto-estima é tão negativo como cometer um homicídio. Nossa responsabilidade.

“Não matarás!”, mandamento bíblico do velho testamento. Ele não foi escrito por acaso. Interpretar textos é importante.

14 de Abril de 2018.

sábado, 9 de setembro de 2017

Seca

A terra seca parece estéril. Não nasce flor, não nasce alimento, não nasce árvore para nos abrigar. Brava gente do nordeste, que vendo a terra seca, a única que tem, faz com que nasça ali, a esperança.

E de enxada e arado, abre sulcos no chão seco, e vê no céu azul, a nuvem que possa virar chuva. Covas abertas, grão semeados e se a chuva cair, vai ter alimento.

Coração árido e seco não nasce nada, não cria nada, não há nada. Mas, se mesmo a terra seca, se ara e se planta na esperança de vir a chuva, abra seu coração seco, plante o que for bom, deixa o milagre acontecer.

09 de Setembro de 2017.

sábado, 24 de junho de 2017

Depurar

Lembranças da minha infância vivida na chácara. Havia uma pequena nascente, uma mina d’água, da qual corria um pequeno filete de água, segundo meu pai, limpa, ótima para se beber, mas, era apenas um filete.

Meu pai quis transformar a nascente numa fonte. Conseguiu umas manilhas, escavou um pouco mais e, pronto: lá estava uma fonte... com água barrenta! Escura, suja. Imaginei que meu pai havia destruído a mina de água limpa.

“-Espera. Esta sujeira vai assentar. A água vai ser depurada. ”

Caiu a noite. Na manhã seguinte, ansioso, corri para a obra de meu pai. A água estava límpida, transparente, via-se o fundo, onde havia apenas areia branca. Fonte transbordando água pura para beber.

A gente fica velho. A vida, que era pequena, mas límpida, torna-se atribulada e turva.

É preciso depurar a vida. Crie um retentor usando fé e amor como manilha. Pare. Espere decantar toda angustia, medo, estresse, raiva. Seja paciente. Pela manhã enxergará luz onde havia turbidez.


Vire fonte.

24 de junho de 2016.

sábado, 24 de dezembro de 2016

Vírus


A forma mais fácil de infectar seu computador com um vírus é clicar em links que, a priori, venham a te mostrar um segredo. Depois de infectado, demorará para perceber (se perceber), sua máquina não funcionará corretamente, terá roubadas informações importantes e até perda de dados.

Da mesma maneira, muitos segredos são revelados (ao contrário do que parece, o segredo existe para ser revelado) nos infectam como um vírus, nos iludindo com a crença que somos especiais, que merecemos ter nossos desejos realizados: poder, riqueza, conforto e felicidade. O vírus precisa ser alimentado, então vai acrescendo mais desejos e, cada vez mais, sucumbimos a vontade do “Eu” e esquecemos do “Tú” ou do próximo.


A infecção se generaliza e o mundo fica cada vez mais egoísta.

Existe uma vacina, muito mais antiga que os segredos, presente quase que no inconsciente: O Sagrado.


Ética (judaísmo), Amor (cristianismo), Servir (islamismo) e Desapego (budismo) são alguns ideais do Sagrado e visam nossa libertação do “Eu”.

24 de dezembro de 2016.

sábado, 17 de dezembro de 2016

Fome

Na infância, já um tanto longe na contagem de luas, meses, anos, décadas, mas tão perto na lembrança, ajudei minha família plantando sementes, cuidando da lavoura e colhendo os alimentos crescidos. Para cada semente plantada, aplaquei minha fome e de outras bocas, várias vezes.

Nunca percebi a importância disso. Poucas sementes, um certo cuidado e alimento suficiente para acalmar vários estômagos.

Hoje, a minha alma está faminta. E, como a outra fome, dói, agoniza, desespera.

Por isso, semeio palavras. Quero colher e compartilhar conhecimento. Saciar.

17 de Dezembro de 2016.

domingo, 27 de novembro de 2016

Correnteza



Uma vez tentei atravessar um canal, sem saber que ali tinha correnteza. Sem habilidade, sem força, mas com apego enorme a vida, me vi em apuros, lutando com um inimigo mais forte, mais poderoso e implacável.


O rio, em sua natureza, seguia o seu caminho, cada vez mais forte em busca do seu apogeu: O mar.

Eu, simples inseto, sem entender a energia do oponente, perdido, cansado, perdendo folego, buscava alcançar o meu objetivo: chegar na margem e viver.

Soberba e medo: mente bloqueada. Desespero. "- Espera, Neto." "- Você vai morrer, o que está fazendo?"

Lucidez e equilíbrio. Nade a favor da correnteza. Saia mais a frente, mas, sobreviva. Use a força do oponente e vença-o.

Estou aqui, escrevendo minhas experiências.

27 de Novembro de 2016.

domingo, 23 de outubro de 2016

Raízes e Galhos

Já vi árvores arrancadas pela tempestade. Raízes expostas da árvore na horizontal. Depois de um tempo, sem folhas, eram fácil notar que havia pouca diferença entre raízes e galhos: seguem em direção contrária, mas, incrivelmente, de forma simétrica.

Raízes buscam dentro da terra a água e os nutrientes, os galhos, desafiam a gravidade em busca do Sol, para que através da fotossíntese metabolize e crie mais nutrientes.

Raízes são galhos que penetram na terra. Galhos são raízes que se estendem para o alto. E todos buscam o alimento que nutre a árvore.

Quero ser árvore. Tenho minhas raízes, delas absorvo das gerações passadas certo aprendizado, mas, não é suficiente, preciso de galhos. Como antenas, me tragam mais conhecimento e transforme para melhor o que vem de minhas raízes. Só assim, eu cresço.

22 de Outubro de 2016.

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Luar


Na infância, quando precisava sair de madrugada ou voltar tarde da noite, na época que não existia iluminação pública e casas iluminadas eram raras, ficava hipnotizado pela Lua. Acreditava que ela nos seguia, às vezes, mudava de lado, às vezes atrás, outras na frente, mas, sempre junto, iluminando nosso caminho, mostrando um mundo prateado e mágico.

Perguntei aos meus pais por que a Lua nos seguia. Acho que cansados da vida difícil de ser adulto e ter de sair à noite com crianças, não me deram respostas.

Cresci um pouco, aprendi que a Lua não me seguia. Ela estava imóvel no céu, quem se movimentava era eu. Ilusão.

Quem sabe, a gente sempre em busca da luz, de iluminação, corremos atrás dela sem nunca alcançar. Vivendo a ilusão da busca, não vemos a beleza e a magia que ela nos apresenta.

Se não alcançamos a Luz, enxerguemos, ao menos, o que ela nos revela.

12 de Outubro de 2016.

sábado, 10 de setembro de 2016

Ortodoxo

Na minha época tradição era estudar até onde der e começar a trabalhar cedo. Se fosse mulher, poderia estudar mais tempo, mas, trabalho, só em casa, cuidando do marido e das crianças.

Ah! A faculdade é longe. É cara! O trabalho é longe. É cansativo! O salário é pouco. A noite é curta. O ônibus é cheio. E o livro, caro.

"- Para que você quer estudar mais? Economiza dinheiro, compra um terreno, lá no fundão tem uns lotes baratos (mais longe). Logo chega luz, água, talvez uma creche e, em alguns anos, uma escola."

A universidade continua longe.

E assim, de geração em geração, mais longe da dignidade se fica.

Mérito de quem mora perto, de quem tem dinheiro. De quem tem saúde, segurança e mais de um carro na garagem.

Ortodoxo é o novo liberal. As coisas são assim e assim devem ser, devem continuar.

“-Mudar? Não, isso é coisa de revolucionário, de socialista, de desordeiro, comunista, black bloc, feminista, classista, amante de gays e outros tantos que não enxergam que progresso é ordem.”

Progresso de quem? Ordem prá quê?

Eu não quero tradição. Quero transgressão. Atravessar o rio e não só construir a ponte. Quero evolução, quero revolução.

10 de Setembro de 2016.

quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Reativar

Baterias automotivas, como tudo na vida, tem um ciclo. Sua vida útil pode durar mais se o seu ciclo de carga e recarga for lenta, da mesma forma, se este ciclo for rápido ela se esgotará em menos tempo. De qualquer forma, em algum momento, a reação química de seus elementos parará de funcionar. Não produzirá mais energia. Vai morrer. Esgota-se.

Porém, em alguns casos, uma bateria parada, descarregada, muito próxima do término de sua vida útil, ao receber novos elementos e uma corrente elétrica, volta a ser ativa e, assim, consegue prolongar aquela ciclo que parecia se esgotar.

Ciclos que não se completam, que não se esgotam por inteiro, podem ser reativados. Não se enganem, se algo estar próximo a se extinguir e, se isso for bom para você, deixe que ele termine, que ele se esgote naturalmente. Interrompê-lo, principalmente de forma brusca, pode reativá-lo, iniciando assim, um novo ciclo.

31 de Agosto de 2016.

sábado, 30 de julho de 2016

Ideia


Adolescente paulistano, achava engraçado a forma que parentes do interior da Bahia falavam. Muitas palavras novas, algumas ditas de formas diferentes, o sufixo diminutivo “inho” virava “im”: “cafézim”, “pequenim”, “azuzim”. Juro que mais do que engraçado, eu achava bonito ou “bunitu”, como eles diziam. Via bastante charme naquele sotaque.

Mas, os significados, ah! isso sim, era interessante. Uma vez, ouvi um tio-avô dizer “-Fulano perdeu a ideia! ”. Demorei para entender. Que ideia era essa? No meu jeito paulistano de pensar, ideia era algo que surgia para resolver um problema, inventar uma brincadeira. Ideia era aquela coisa fantástica de descobrir ou criar algo bom.

Como alguém perde a ideia? Quebrava a cabeça em busca do significado. Será que não seria “roubaram a ideia”? Prestei mais atenção no rumo da conversa e aprendi uma coisa genial: “Perder a ideia”, para meu querido povo do interior baiano, era “perder o juízo”, “enlouquecer”, “ficar doida”.

E nós, cheios de conhecimento, mas, vazios de entendimento, buscamos a ideia que nos salvará, que nos tornará importantes. Achamo-nos inteligentes, não notamos que somos todos loucos que buscam a lucidez. E que chegue a ideia. Que se faça a luz!

30 de julho de 2016.

sábado, 4 de junho de 2016

Frouxidão


Falando em roupa que não me serve mais, ainda preciso aprender minhas novas medidas. Comprei uma calça mais larga do que o necessário. Frouxa, costuma cair, faz aparecer o que eu não gostaria, me envergonha. Ajustar, torná-la justa se faz necessário.

Tempos modernos de pessoas com pensamentos largos, capazes de ver o limpo naquele que tem tudo e de só enxergar a sujeira naquele que não tem onde morar. O primeiro é lindo. O outro, nojento. O primeiro, por mérito, ganha mais. O segundo não merece nada. O primeiro você dá a mão. O segundo, as costas.

Meu Pai celestial, por favor, que meu caráter seja justo. Me afasta dessa frouxidão moral, que faz as pessoas verem em mim, o que deveria me envergonhar.

04 de Junho de 2016.

sábado, 28 de maio de 2016

Água

A água é um elemento incrível. Além de existir em 3 formas: líquido, sólido e gasoso; ainda é capaz de quebrar as leis da física, pelo menos no meu leigo ponto de vista.

Quando criança, costumava ver uma mancha de água “subir” por um pedaço de pano ou papel, como se buscasse o topo. Começava de forma afoita, rápida e, depois, diminuía a velocidade, pacientemente subia devagar, tomando o terreno, infiltrando pelas fibras, tornando-se uma coisa só e, no final, encharcando o tecido ou o papel.

E se nossos pensamentos fossem como a água? Se eles tivessem o poder de quebrar leis inquestionáveis? Se pudesse se infiltrar pelas coisas? Mudar de forma?

Talvez seja. E, por via das dúvidas, que eles sejam límpidos, transparentes, que nutra o que for bom, como água que nos limpa e nos sacia a sede.

28 de Maio de 2016.

sábado, 21 de maio de 2016

Roupa velha

Outro dia, abri o guarda-roupa para procurar um velho jeans desbotado, o meu preferido. Peguei-o. Infelizmente, não me coube mais. Decepcionado, pensei até em emagrecer para usar a peça de roupa tão querida. Desisti logo. Melhor doá-lo, provavelmente, existe alguém que necessita dele mais do que eu.

Lembranças de um velho jeans guardado. E às vezes, guardamos lá no fundo da alma, situações passadas, aventuras vividas, sentimentos intensos. Como roupa velha, não nos servem mais, mas, guardamos ali, talvez com a esperança de viver tudo de novo. Não dá. Passou.

Eu aprendi. O que não me cabe mais, eu doo. Quem precisar, que vista. Quem quiser, que leia.

21 de Maio de 2016.

sábado, 2 de abril de 2016

Veneno

Me preocupa bastante a forma que é produzido nosso alimento. Vemos produtos cada vez maiores, mais apetitosos e atraentes, às vezes, até fora de época.

Não sei se é necessidade ou ganância, mas, não há mágica, essa produtividade se deve a mecanismos artificiais para aumentar e melhorar a produção. São usados fertilizantes e venenos que provavelmente nos atingem também. Com o intuito de combater pragas, usamos produtos químicos que as matam mas, nos envenenam lentamente.

Em nossa humanidade (ou desumanidade, sei lá!), com intuito de combater o “mal” (“mal” em relação ao nosso ego) falamos coisas odiosas sobre o próximo. Jogamos uns contra os outros, julgamos, condenamos e por fim destruímos (matamos, pois, destruir o caráter de alguém, num plano divino, é o mesmo que assassinato). Não enxergamos que o remédio empregado no combate é o mesmo que envenena a nossa alma.

“Não matarás!”

02 de Abril de 2015.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Incompleto

Sabe aquela xícara que você enche com sua bebida preferida, quase transbordando? Não vê a hora de sorver aquela delícia e se lembra de que você gosta dela bem doce, mas, se esqueceu de colocar açúcar.

A xícara que transborda não aceita mais nada. É preciso esvaziar um pouco, mesmo que isso signifique beber o que ainda não lhe é agradável.

Muitas vezes, em minha soberba, acredito que posso escrever este blog com facilidade, completo de conhecimento, não me faltarão assuntos ou abordagens, mas, ao contrário, me falta as palavras. Cheio do que achava ser conhecimento, não sobra espaço para aceitar que o conhecimento não nasceu comigo. Então, reconheço que mesmo cheio não sou completo, me esvazio, me desinflo para que eu possa aceitar mais um pouco do sopro divino e, só assim, ter o que dividir, ter o que compartilhar.

08 de Fevereiro de 2015.

domingo, 31 de janeiro de 2016

Em outras palavras

Quero viajar em cada pensamento que tive, em cada momento do passado. Em cada tombo e em cada avanço.

Viajar pela escuridão da tristeza e encontrar a luz da felicidade.

Viajar pelos momentos em que o medo foi grande, mas, que me ensinaram que bastam poucos segundos de coragem.

Lembrar dos momentos de dor e poder dizer “isso passa”. Lembrar dos momentos de êxtase e também dizer "isso passa".

E de cada passo dessa jornada, de cada curva do caminho, tirar uma lição.

Em outras palavras, vou escrever um blog.

31 de Janeiro de 2016.

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Espelho

Crianças e animais tem reações engraçadas ao se olharem num espelho. Quando não se reconhecem, ficam olhando, brigando, se assustam, tentam ultrapassar. A situação se complica quando percebem que cada ação do lado de cá, reflete do outro lado. Não conseguem ultrapassar a imagem, não conseguem enxergar o que está atrás da imagem, se irritam (Engraçado?! Do outro lado, a imagem também.)

Como num espelho, na maioria das vezes, o obstáculo mais difícil de ultrapassar, aquele que faz sombra impedindo a luz, é a gente mesmo e, como no espelho, não adianta brigar.

26 de Janeiro de 2016.

domingo, 17 de janeiro de 2016

Poeira

Ao varrer a casa, que fica fechada e sozinha a maior parte do dia, não há muito que ver: poeira, lã dos tecidos, muito pouco vindo de fora, alguns fios de cabelos, pelos.

Uma parte da poeira doméstica é formada por pele morta. Varro uma parte de mim que não serve pra mais nada, já foi trocada, renovada e agora vai para o lixo.

É o que devo fazer com sentimentos, pensamentos, rancores que não me servem para mais nada, passaram, morreram. Varrer, juntar e jogar fora.

Parte daquele pó que varremos todos os dias, já foi parte da gente também, passa pelos cômodos, junta pelos cantos. No Universo maior, aquele que não enxergamos, somos só poeira, estamos só passando.

17 de Janeiro de 2016.

domingo, 10 de janeiro de 2016

Barreiras

Já ficava hipnotizado com as crianças do programa Raul Gil e agora acontece a mesma coisa neste “The Voice Kids”. Como essas crianças têm tanto talento e técnica? E mais, vontade de vencer? Porque, para estar lá, é preciso vontade de vencer, não de ser o campeão do concurso, mas, de vencer seus obstáculos e atingir seus objetivos: serem cantores de sucesso!

Confesso, eu também me espanto com o talento, e acredito que haja mesmo um dom, algo que nasce com você. Mas, e sempre eu tenho um “mas”, eu também me pergunto: será que não há algo mais? Será que todos nós não temos esta capacidade de brilhar?

Muitos dos candidatos de hoje, aliás, os melhores, vinham de família de músicos, já conheciam o “lado de lá”, conheciam o outro lado da cortina, já haviam cruzado as barreiras. Os bloqueios que impedem o sucesso, no caso deles, não existiam, ao contrário, havia incentivo e motivação. Sem falar que são crianças, puras e ingênuas, não reconhecem barreiras.

Somos todos ilimitados, destinados ao sucesso, basta romper as barreiras, abrir as cortinas, deixar que a luz entre e nos faça brilhar.

10 de Janeiro de 2015.

domingo, 3 de janeiro de 2016

52 semanas

Foi-se 2015. Escrevi 52 publicações. Uma para cada semana do ano. Engraçado, até eu começar a escrever este blog, se alguém me perguntasse quantas semanas havia num ano, eu não saberia responder. E só no segundo ano de existência do “Sobre o Berelando...” que aprendi isso.

Não sei se isso é bom ou ruim: saber quantas semanas tem um ano. Talvez, se olhar para trás e ver tudo o que fiz não seja muito saudável. Olhar para frente, criar expectativa sobre cada semana que virá, tão pouco.

Melhor continuar como está. Quando chegar o fim de semana, se eu tiver um assunto, se eu tiver os recursos e a disposição, eu sento aqui, escrevo e publico. Viver o presente para construir o futuro e deixar no passado só histórias.

03 de Janeiro de 2015.

domingo, 27 de dezembro de 2015

Verdade

Pitágoras, no século 6 antes de Cristo, virou piada por afirmar que o planeta Terra era redondo.

Três séculos depois (século 3 a.C) outro grego afirmava que a Terra girava em torno do Sol. Claro que quase ninguém acreditou nesse “absurdo”.

No século 2 a.C o astrônomo Erastótenes acertou com precisão o perímetro da terra (cerca de 40.000km), claro que ninguém acreditou, afinal, a Terra nem era redonda.

No século 2 depois de Cristo, o astrônomo grego Ptolomeu afirmou que a Terra era o centro do Universo – todos acreditaram nisso durante os seguintes 1.400 anos. Galileu Galilei até foi condenado por heresia por ir contra essa ideia.

Hoje, a única coisa que eu tenho certeza é que meu ego “me” engana mais do que acerta.

27 de Dezembro de 2015.

domingo, 20 de dezembro de 2015

Pergunta

Em toda história que li, em tudo o que eu estudei, eu sempre fazia uma pergunta a mim mesmo e tentava descobrir a resposta. “- O que o autor quer me dizer?” E nesse exercício cheguei a vários insights, muitos deles escritos neste blog.

E apesar de não ser tão religioso, sempre fui aficionado em histórias bíblicas e, nestas histórias, nunca deixei de fazer a tal da pergunta. Uma bem bacana é a história da arca de Noé. Onde quase todos viam uma história de recomeço, de fé e até de vingança, eu queria saber por que os animais da arca se respeitavam. Por que o leão não atacou a zebra? Por que as serpentes não comeram as aves? E tentando responder estas questões, aprendi uma das melhores lições que podemos levar para vida.

Estamos todos no mesmo barco. Ou nos respeitamos e tentamos construir um futuro justo ou vamos todos afundar.

20 de Dezembro de 2015.

domingo, 13 de dezembro de 2015

Transformação

Quando criança eu tinha uma brincadeira que consistia em falar repetidas vezes uma palavra até a exaustão. Durante esta repetição, inconscientemente a palavra ia mudando, mas eu continuava. No final eu estava repetindo uma palavra totalmente diferente da que começou e, pelo menos no meu caso, eu nem lembrava mais da primeira palavra.

E como na brincadeira de criança, venho escrevendo este blog há sete anos. Não lembro como começou, esqueci várias passagens neste tempo e não sei como será o futuro das publicações.

A gente vai repetindo o que for bom, os resultados vão se transformando e mesmo que você não perceba, mesmo que você não entenda, mesmo que você tenha esquecido como começou, a mudança, a transformação virá quando ela for necessária.


13 de Dezembro de 2015.

domingo, 6 de dezembro de 2015

Compromisso

Circula na internet a história de uma mulher que levantou um carro para salvar o filho preso embaixo dele. Uma mulher comum, mas com a adrenalina a mil, fez o que pensava ser impossível para salvar o filho.

Se tivessem dito a ela que era possível levantar um carro, com certeza ela não acreditaria. Se conseguissem fazer com que acreditasse, e, se ela tentasse, com certeza não conseguiria de primeira. Provavelmente diriam a ela que, se ela treinasse bastante, conseguiria. Mas, por que ela faria isso?


Agora, se ela soubesse o que iria acontecer, tenho certeza que ela teria treinado bastante, incansavelmente, dia e noite.

Se eu soubesse que precisaria de muita força para salvar alguém que eu amo em poucos dias, tenho certeza que começaria a treinar imediatamente e incessantemente porque sei que não sou forte.

E se eu falasse que a nossa felicidade depende de tornar os outros felizes? E se a gente tivesse a certeza que o nosso futuro e o destino das pessoas queridas dependesse desta ação de fazer o mundo mais feliz? O que você faria?

06 de Dezembro de 2015.

domingo, 29 de novembro de 2015

Castelo de areia


Aprendi com meu pai a construir castelos de areia. Eles não eram uniformes, não tinham torres, nem bandeiras, nem muralhas.

Quando criança, vi meu pai cavando a areia molhada e ele a deixava escorrer pelos dedos. As gotas de areia iam tomando a forma de pirâmide, que mais tarde me lembrou as torres de Gaudi, mas isso não vem ao caso.

Aquele era o seu castelo de areia. Não era nada sofisticado, então, ele não se importou de compartilhar sua construção comigo e eu comecei a imitá-lo, depois chegou meus irmãos e repetiram o gesto. A torre crescia, naquela forma escorrida e engraçada e, em determinados momentos, ela desabava e imediatamente apareciam novas formas.


Quase como num transe íamos os quatro construindo uma torre que desabava e se transformava. E nunca sabíamos quando, em que pingo de areia, de que mão viria aquele pingo que faria a torre ceder, nem no que se transformaria.

Ao compartilhar ações construtivas é sabido que num momento, aquele pingo a mais de alguém, transformará tudo ao redor, mas, não é um colapso, é uma nova construção, uma nova forma, uma mudança criativa.

29 de Novembro de 2015.

domingo, 22 de novembro de 2015

Neblina

Quem já dirigiu sob neblina sabe o que significa medo. Ter de guiar o carro sem ver o que há a frente é algo que causa pavor. O pior que você também não pode simplesmente parar, pois, causará um acidente, então, com medo, você continua.

Eu, quando tive de dirigir nessa situação, busquei orientação nas faixas demarcadas no solo, assim, eu sabia quando precisava virar à esquerda ou à direita. Sabia que não bateria num muro nem cairia numa ribanceira. Na frente eu precisava confiar e torcer para não aparecer nenhum obstáculo.

Algumas vezes ficamos tão perdidos e o medo nos impossibilita enxergar o futuro. Na verdade, nunca o enxergaremos. A gente pode imaginar nosso futuro
, pelos nossos atos e escolhas no presente. E aqui no presente, precisamos buscar a sinalização (deixada há muito tempo, por pessoas sábias) que nos balizará evitando os obstáculos fatais.

O que vem a frente? É preciso confiar.

22 de Novembro de 2015.

domingo, 15 de novembro de 2015

Desejo de Deus?

O desejo humano de possuir riquezas pode transformar em lama tóxica o que a natureza levou milhões de anos para formar. E o ser humano é só desejo. Deseja posses, deseja poder, deseja estar certo, deseja que o próximo o siga. Como desculpa de dar ao Criador o que Ele quer, matamos uns aos outros.

Dizem que somos feitos imagem e semelhança do Criador. Carregamos dentro de nós o Seu sopro. E de onde vem este desejo? O que eu tenho de dar ao Deus?

O Criador já tem tudo, Ele que fez, não precisa de mais nada. O Criador nos deu o Universo, nos deu as provisões, nos deu a vida através de um sopro (será que não colocou dentro de nós uma alma?) e continua nos dando os dias para corrigirmos nossos erros.

A natureza de Deus é dar.

Eu não posso dar nada a Quem já tem tudo. Se queremos ser imagem e semelhança do Criador, o nosso desejo não pode ser o de ter/possuir.

15 de Novembro de 2015.